Descubra os mitos e as verdades sobre a cisticercose

Mesmo com destaque nos principais mercados internacionais, a carne suína aqui no Brasil é cercada de mitos e inverdades tão antigos que acabam confundindo qualquer consumidor. A carne suína consumida décadas atrás não possuía as mesmas características que o produto comercializado hoje ― o que também se aplica às outras carnes. Porém, ainda se mantém uma cultura a respeito dela.

Um dos principais mitos sobre a carne suína está relacionado às enfermidades teníase e cisticercose. Na suinocultura tecnificada, em que os suínos são criados confinados e recebem apenas rações como alimento, a possibilidade de transmissão do parasita é praticamente zero.

A teníase é uma doença causada por um parasita chamado Taenia solium, no caso dos suínos, e Taenia saginata, nos bovinos. As Taenias precisam de dois hospedeiros para completar o seu ciclo evolutivo: um é o homem, que é o único hospedeiro definitivo da Taenia (único a possuir a fase adulta do verme) e o outro hospedeiro, chamado de intermediário (pois nele só ocorre a fase larvar, conhecida como cisticerco), podem ser os suínos, bovinos, carneiros, entre outros animais.

Ao consumir a carne suína ou bovina portadora de cisticercos ― quando elas não atingem o tempo de cozimento adequado ― o ser humano corre o risco de adquirir a Taenia e desenvolver a doença denominada teníase, também conhecida popularmente por solitária.

Três meses após a ingestão do cisticerco, a Taenia ― já localizada no intestino delgado do homem ― começa a desprender anéis (ou segmentos) de seu corpo. Os anéis podem sair com as fezes ou se romperem ainda dentro do intestino, liberando os ovos que são eliminados da mesma forma durante a defecação. No meio ambiente, estes ovos, dependendo da temperatura e da umidade, podem continuar ativos por quase um ano.

A Taenia pode viver vários anos no intestino do homem, contaminando o meio ambiente onde as suas fezes caírem, ou seja, o fator de risco aumenta se a defecação for em local inadequado. Se houver esgotos apropriados, o problema praticamente desaparece.

As fezes ressecam com o sol e os ovos são levados pelo vento a grandes distâncias. Dessa forma, contaminam pastagens, hortas, rios e lagoas, cujas águas podem ser utilizadas para beber ou irrigar plantações. O homem com teníase pode se auto contaminar com os ovos ao não fazer corretamente a higiene após evacuar.

Já a cisticercose é uma doença causada no hospedeiro intermediário, como o suíno, pelas larvas da Taenia. Os suínos, bovinos e o próprio homem adquirem esta doença ao ingerir alimentos ou tomar água contaminados com ovos da Taenia.

Após a ingestão, os ovos vão para o estômago e o intestino delgado, locais em que os embriões são liberados e se fixam nas vilosidades, perfurando a parede intestinal, atingindo os vasos sanguíneos e, consequentemente, sendo distribuídos pelo corpo todo. A grande maioria se fixa no cérebro, causando a chamada neurocisticercose. Outras localizações, além do sistema nervoso, são o coração, os olhos e os músculos.

No suíno, a formação dos cisticercos no músculo é popularmente conhecida como canjiquinha. Ao comer essas carnes, caso elas não forem devidamente cozidas, o homem ingere os cisticercos (larvas), que evoluirão em seu intestino até a fase adulta, causando a teníase e completando assim o ciclo desse verme.

O conceito errôneo de que a cisticercose é transmitida ao homem pelo consumo de carnes contaminadas, de suíno ou bovino, se deve à falta de conhecimento sobre o ciclo de vida desse parasita. Pela descrição desse ciclo, podemos concluir:

  • O homem é o potencial disseminador de cisticercose no suíno e não o contrário, ou seja, o suíno não causa a cisticercose no homem;
  • O suíno participa do ciclo da doença que é transmitida pelo homem, apenas abrigando a fase larvar da Taenia (cisticerco);
  • Verduras e frutas irrigadas com a água contaminada com fezes de pessoas portadoras de Taenia representam um grande risco de contaminação quando ingeridos;
  • Quando consumimos carne suína ou bovina portadora de cisticercos que não atingiram o tempo de cozimento adequado existe o risco de adquirirmos a Taenia, mas não de termos a cisticercose;
  • Considerando o ciclo desse parasita, quem contamina o meio ambiente  é o homem que, por meio de suas fezes, libera os ovos da Taenia;
  • Havendo o controle e a evolução do saneamento básico, reduzimos o número de pessoas portadoras da solitária (teníase) e, consequentemente, eliminamos a cisticercose nos suínos e bovinos;
  • Na suinocultura tecnificada, em que os suínos são criados confinados e recebem apenas rações como alimento, a possibilidade de transmissão do parasita é praticamente zero, se levarmos em consideração a quebra do ciclo.

Vamos comer um belo pernil assado? Eu vou onde me servirem uma carne de origem certificada, e você?

Fonte: Suinocultura Industrial. Acesso em 16 de junho de 2016.

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